Entrevistamos na passada quinta-feira (2015-02-26) o escritor e nosso associado João Nogueira, que lançou, no passado dia 24 de Janeiro de 2015, o seu primeiro livro “Pés bem assentes na lua” cuja leitura recomendámos vivamente, e que nos deixou o seguinte registo, que aqui partilhamos convosco:

Bilhete de Identidade:
Nome: Ricardo João Torres Nogueira
Associado nº: 201
Data Filiação: 02-10-1987
Naturalidade: Rio Tinto
Nacionalidade: Portuguesa

 

Fez, no passado mês de Outubro de 2014, 27 anos de filiação como associado do Clube, olhando para trás perguntamos: Tem valido a pena?
Tem valido a pena e vale sempre a pena, porque o SC Rio Tinto é um clube que se confunde com a cidade e é um clube que também está ligado a várias gerações da minha família, como praticantes mas sobretudo como adeptos, obviamente alguns mais fervorosos que outros mas há uma linha de continuidade em toda a minha família para com o clube. Em miúdo, houve uma altura da minha vida que era muito regular as presenças no campo. Depois, com as vicissitudes da vida, a presença física é menor mas o acompanhamento é no mínimo ver a crónica no jornal à 2ªfeira, no mínimo é isso. É o meu clube, o clube da minha terra. Nós habituamo-nos sempre a gostar do sítio onde por casualidade nascemos e eu tenho uma ligação muito forte com Rio Tinto, tanto com a cidade como com o clube. Tem valido muito a pena esta ligação.
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Da visita que fez ao Clube, notou alguma(s) diferença(s), relativamente “ao seu tempo”?
Notei bastantes diferenças, o que me agradou bastante, sobretudo na estrutura física e humana mas principalmente na humana porque deu-me a sensação que há muitas pessoas envolvidas com gosto, com vontade mas sobretudo com competência, foi essa a ideia com que fiquei. Gostei muito da visita, aliás, comentei com o meu Pai isso. Fiquei muito agradado, principalmente com a simpatia das pessoas e pelo simples facto de, num momento muito importante para mim,  as pessoas estavam lá, não esqueço isso e palavra de honra que foi muito gratificante. Fiquei muito feliz de ver que o clube está em boas mãos.

“Quando Rio Tinto era o Maracanã. Ou quando éramos felizes sem dar por isso.” Foi, enquanto adolescente, nosso atleta. De que forma essa passagem pelos nossos escalões de formação, influenciou a sua personalidade?
A adolescência, tal como a infância acompanha-nos até ao resto da vida, é um período que nos marca, de forma negativa ou positiva, mas temos que levar com isso para o resto da vida. A passagem pelo SC Rio Tinto em particular, marcou-me sobretudo como pessoa, porque aprendi a descentrar-me um bocadinho de mim, a valorizar o coletivo e quando valorizamos o coletivo acho que conseguimos sair um bocadinho de nós e percebemos que não somos o centro de tudo. Marcou-me de diversas formas, as relações humanas que fiz e sobretudo o gosto de jogar futebol pelo SC Rio Tinto, o meu clube, e jogar com o símbolo do clube que tu gostas ao peito é diferente.

 …somos a soma de todos os que gostamos. E de todos os que gostam de nós… Tivemos a oportunidade de constatar, na preparação desta entrevista, a forma muito amistosa com que foi recebido na Ferraria, pelo nosso Presidente da Direção, Jorge Pina e por um dos nossos Diretores da formação, Luis Mesquita. Esta “visita ao passado” foi importante para si?
Foi, porque eu discordo daquela máxima que “nunca deves voltar ao lugar onde foste feliz”, discordo mesmo. E isso foi a prova disso, foi extremamente agradável, foi revisitar o passado, rever caras que acompanham a minha vida e a relação com o SC Rio Tinto, caras que me lembrava há 10/15 anos, mas é sempre bom voltar a casa, foi muito agradável.
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A atual Direção do Clube, tem feito um esforço no sentido de tornar o Clube atrativo do ponto de vista do Associado. Tem notado este esforço?
Eu que não estou por dentro, estou por fora, mas sempre atento, noto a vários níveis esse esforço, o brio com que as coisas são feitas, um exemplo disso é o gosto que me falaram da remodelação do autocarro. Mas tenho notado, mesmo a nível das redes sociais, o SC Rio Tinto tem conseguido acompanhar o tempo, sobretudo agora. Na minha opinião está a saber potenciar-se da melhor forma, mas sobretudo no nível humano, quero pôr aqui a tónica nas pessoas, porque dá-me a ideia que são pessoas competentes e prescindir de uma parte do dia para estar aqui em detrimento de estar com a família, só de si já é de louvar. Nota-se claramente que o SC Rio Tinto está a atravessar uma fase de crescimento, a nível futebolístico e de imagem, está a saber modernizar-se.

Sendo a cidade/freguesia de Rio Tinto, uma das mais densamente povoadas do país, acha que o S.C.Rio Tinto tem “margem de manobra” para crescer?
Eu julgo que sim, sem dúvida nenhum. Rio Tinto é das freguesias com maior densidade populacional e acho que o SC Rio Tinto merece um lugar bastante superior aquele onde está, tem muita massa adepta, mas o problema é que o Rio Tinto de hoje é muito diferente do antigamente. Antigamente era um SC Rio Tinto mais bairrista, porque as pessoas eram de cá, conheciam-se todas, provavelmente acompanhavam mais o clube também, hoje, quer queiramos quer não, Rio Tinto acaba por ser uma cidade dormitório, mas o bom de Rio Tinto na minha opinião continuam a ser as pessoas, são as pessoas que conseguem contar a história de Rio Tinto, e essas pessoas geralmente hoje estão mais velhas, o tecido humano mais recente não tem uma ligação tão forte com o clube, mas em termos de densidade populacional claramente que o SC Rio Tinto merecia estar nos nacionais e lutar por mais. Não sei se é importante referir isto, mas hoje as pessoas estão mais ligadas aos clubes da 1ª liga, e isso acaba por deixar pouco espaço para clubes como o SC Rio Tinto. A relação de muitas pessoas da geração abaixo da minha com o clube não é tão vincada como era antigamente, antigamente havia torneios de verão e as pessoas encontravam-se todas no campo e hoje isso não acontece, tudo bem, são sinais do tempo, mas para mim que cresci aqui, que nasci aqui, tenho saudades desse tempo, de andar de carro e cumprimentar toda a gente e isso hoje não acontece.
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O que considera que pode ser feito para trazer mais associados para o Clube?
Na minha opinião, infelizmente penso que é os resultados desportivos que acabam por trazer as pessoas, mas o SC Rio Tinto quando precisa das pessoas, as pessoas acabam por dar uma resposta. Acho que os resultados têm que continuar a ser positivos, a ser bons e têm que continuar com as iniciativas que têm feito. Parece um pormenor, mas um Facebook com 3000 seguidores, as pessoas vão percebendo que há vida no clube, que o clube tem o coração a bater e isso acaba por ser importante. Mas eu infelizmente, acho que tem de ser o clube, hoje em dia a chamar as pessoas e os resultados ajudam. O clube hoje está vivo, e houve fases na vida do clube que foram menos boas.

Temos nesta data 250 atletas no activo. Considera que o Clube dá as melhores condições de trabalho a todos estes atletas?
Não vos posso dar uma resposta muito sustentada, mas pelo o que eu vejo o clube tem umas condições extraordinárias, no meu tempo, já estou a dizer no meu tempo (risos), as condições eram as mínimas, hoje vemos os miúdos bem equipados, as condições são diferentes. Pelo o que eu consigo constatar as condições estão muito melhores.
Acho também que o SC Rio Tinto deveria ter uma ajuda proporcional àquilo que representa.

Considera que o S.C.Rio Tinto, tem condições para disputar/suportar uma equipa sénior numa divisão Nacional?
Eu gostava muito que sim, agora, para isso têm de estar reunidas uma série de condições, a nível de apoios, do crescimento dos associados, os sócios têm que voltar ao SC Rio Tinto. Julgo que uma equipa sénior numa divisão nacional tem outros custos que agora não tem, e julgo que sejam substancialmente maiores. É um clube com história, e os clubes com história merecem andar noutros sítios. Há muitos clubes com muito menos apoio que chegaram a disputar primeiras divisões nacionais e temos de pensar que se esses clubes são capazes, o SC Rio Tinto também o será. Para isso, como disse em cima, terá que reunir e canalizar para si vários apoios, tem que continuar a ser atrativo para que as pessoas invistam, e depois é tudo uma bola de neve, pois as pessoas vêm também, julgo que seja assim.
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O que é, para si, ser adepto do S.C.Rio Tinto?
Eu vou ter que responder com um cliché, porque ser adepto de um clube é uma carga de paixão muito grande, um amor irracional. Mas para mim ser adepto do SC Rio Tinto são caras, é uma resposta estranha, mas se eu fechar os olhos para vos dar a resposta, eu vejo caras de há 20 e 30 anos atrás, lembro-me deles religiosamente ao domingo na ferraria, cada um nos seus diversos setores do estádio a acompanhar o clube com paixão, com dedicação. Para mim ser adepto do SC Rio Tinto é fechar os olhos e ver a ferraria cheia e lembrar-me de pessoas que viviam o clube e que transmitiam a mística do clube. As pessoas que, no fundo, nos deixaram a herança.
Antigamente, e vou voltar ao saudosismo, as pessoas gostavam mesmo do SC Rio Tinto, infelizmente hoje as pessoas têm uma relação com o clube muito diferente. Um jogo, antigamente, durava 1 semana, toda a gente sabia o 11 que ia jogar, havia uma maior proximidade. Hoje a sociedade mudou, tens outros tipos de chamariz, tens outro tipo de atrações, antigamente era quase estipulado que ao domingo era dia de futebol, de manhã eram os miúdos, de tarde os seniores e à noite era o Domingo Desportivo, as pessoas viviam muito mais o clube.
Vou-vos confidenciar uma coisa, e isto para mim significa qualquer coisa, sou sócio do SC Rio Tinto, e tenho algum orgulho e vaidade em dizer isto, há 28 anos, o mérito é do meu pai, não é meu (risos). Tinha 8 anos e antigamente a bancada dos sócios era só para sócios, num dia ia a entrar e o senhor barrou-me a entrada e disse que era só para sócios, eu disse que era sócio, ele duvidou,  fui ao meu pai que estava no outro lado do campo, pedi-lhe o cartão e entrei, fiquei com o peito feito (risos). Aliás, o meu pai, sendo portista, disse-me que eu ia ser primeiro sócio do SC Rio Tinto, e isto é verdade, não é para ficar bonito na fotografia, sou sócio do SC Rio Tinto desde 1987 e sou sócio do FC Porto desde 1988, são pormenores que mostram o sentimento que as pessoas têm pelo clube e pela terra, porque eu acho que o SC Rio Tinto e a cidade de Rio Tinto são indissociáveis, porque os adeptos fervorosos do SC Rio Tinto são daqui, são as pessoas que o sentem e felizmente ainda temos pessoas assim.

Por último, pedimos que vista por uns minutos o “fato de um vendedor” da marca “Sport Clube de Rio Tinto”. O que faria/diria para convencer um qualquer seguidor do Clube a tornar-se associado de pleno direito.
Eu acho que ninguém convence ninguém a gostar de uma coisa tão abstrata como um clube de futebol, mas se alguém já tem um sentimento por esse clube, podemos criar condições para que tenha uma relação com o clube mais comprometida, e nesse sentido como é que lhe venderia a ideia? Na verdade, sou um péssimo vendedor (risos), mas é um clube com pessoas competentes, pessoas com vontade em colocar o SC Rio Tinto num lugar onde merece estar, que é um lugar mais acima. O SC Rio Tinto hoje passa a imagem de um clube jovem, que respira, que acompanhou as tecnologias, que comunica com os adeptos, não ficou estagnado, que tem uma base de dados impecável, é atualizado nas redes sociais ao minuto, o Record online, por exemplo, é mais lento a dar os resultados do que o SC Rio Tinto, tenho essa ideia (risos). O SC Rio Tinto faz parte da minha história, e eu faço uma ínfima parte da história do clube. Foram 1000 treinos para aí, 5000 vezes que me atirei para o chão, conheci pessoas fantásticas que são viajantes da nossa viagem. A alegria de defender um penalty, com a ferraria cheia, é difícil de explicar. Mas são coisas que as pessoas não se lembram, mas para quem passa por elas é uma sensação muito boa, era uma alegria tremenda, era melhor do que tirar um excelente num teste.

 

Ao nosso associado, João Nogueira, deixamos aqui o nosso mais profundo agradecimento por nos ter concedido esta fantástica entrevista.

“…Somos sempre um pouco do outro de quem gostamos. Ou muito. Deixamos sempre de ser um bocadinho de quem somos quando ficamos sem uma parte do que somos. Só se foge ao pelotão de fantasmas nos primeiros metros. Depois eles apanham-nos. Sempre!”

 Há gente que fica na alma da gente!

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